Entrevista com artista plástico e muralista Miguel Hachen, criador da estética Neoguarani, um estilo individual único que, pelas suas qualidades, se projeta como um movimento artístico-cultural.
Miguel,
onde e como surgiu o conceito estético Neoguaraní, como você o define e o quê
aspira alcançar com ele?
Como
acontecimento artístico, a linguagem plástica ou, se preferir, a estética Neoguarani surgiu no meu estúdio, em Foz do
Iguaçu, no ano de ’96; ainda que a sua denominação fosse adotada alguns anos
depois. A concepção desta linguagem inclui as vivencias da minha infância na
selva missioneira, somadas às pesquisas históricas sobre a formação de um
grande fenômeno sociocultural que foi se gestando através dos séculos em
decorrência da miscigenação de culturas diversas e antagônicas; isto é:
espanhóis e guaranis; portugueses e tupis, aos que se incorporou a ulterior
imigração europeia.
A
expressão Neoguarani, neologismo que fora
acunhada pelo antropólogo Darcy Ribeiro, foi emprestada para nomear e definir
esta particular forma de arte e manifestação cultural. Nela se combinam
diversas estéticas para expressar e revelar os conhecimentos herdados desses
longos processos de aculturação e transculturação que formaram esta sorte de
sincretismo que hoje nos identifica culturalmente. Embora os elementos mais
significativos dessa interpenetração cultural passem despercebidos, estão
presentes no nosso dia-a-dia, na língua e na cadência dos sotaques; nos léxicos
e neologismos, na vasta toponímia e na ampla denominação das espécies vegetais
e animais; nas lendas e na culinária, bem como em tantas outras formas de
expressão cultural. Ainda assim, no âmbito das artes visuais, esse
extraordinário patrimônio cultural que antecede a formação das atuais nações,
nunca antes foi valorizado ou consagrado. Eis aí a sua originalidade.
As formas,
a simbologia e as cores das obras; em suma, a questão da linguagem plástica em
si, poderia ser definida como uma expressão artística autêntica que traduz a
nossa identidade cultural. Minha maior aspiração é que se vier a transformar-se
em um estilo ou movimento, o Neoguarani transcenderá os limites das artes
plásticas, é com o tempo, poderá constituir-se em um fenômeno artístico-cultural
mais abrangente.
Quais
são os conteúdos temáticos que propõe a arte ou estilo Neoguarani?
Minhas
obras geralmente retratam diversos conteúdos que vão desde os mitos e as lendas
guaranis, até alcançar temáticas históricas, sociais e naturais.
Qualquer
artista pode se aderir ou seguir esse estilo?
Para se
aderir primeiro seria necessário identificar-se, sentir, assimilar e
compreender com profundidade os princípios que fundamentam a arte Neoguarani. Logo, por razões éticas muito obvias, a
adesão deveria ser pública; isto é, reconhecendo e citando a origem. Embora
existam artistas que agem com ética, tenho notado que devido à divulgação,
aceitação e certo reconhecimento, colegas de diversos países começaram a adotar
esta forma de expressão plástica ou estilo pessoal, mesmo sem tomar a
denominação ou dando-lhe outra. É notório que, a maioria desses adeptos,
provindos das redes sociais da internet, atua anonimamente imitando ou tomando
apenas os elementos pictóricos superficiais, sem ter as vivencias nem o
conhecimento, deturpando assim esta linguagem.
Além
da pintura, em quais outras especialidades artísticas se expressa o Neoguarani?
Mesmo que
eventualmente incursione na realização de cerâmicas e esculturas, que tenha
escrito poesias e composto músicas, ainda inéditas, os principais meios de
expressão são as pinturas, as obras murais e os painéis.
Tem
alguma ideia de quantas obras já executou e em quais cidades já expos seus
trabalhos?
Jamais me
ocorreu contabilizar as obras realizadas. Para responder a tua pergunta,
teríamos que reunir todos os esboços, as pinturas e os murais, os poemas e as
musicas da minha autoria. Mas, aproximadamente, realizei uns 30 murais,
participei de mais de 30 exposições coletivas e umas 18 mostras individuais em
diversas cidades do Brasil, da Argentina, do Paraguai e da Bolívia. Algumas das
obras formam parte de acervos em diversos países europeus, americanos e
africanos.
Entre
todas as suas obras há algumas que considere especial, por quê?
De alguma
maneira todas são especiais porque formam parte do processo criativo como um
todo. Talvez a melhor obra, a mais especial seja aquela que ainda não fiz.
Gostaria
de fazer algum comentário final ou deixar alguma mensagem?
Sim. Se
realmente for uma arte precursora ou uma expressão artística que nos
caracterize e identifique como seres culturais, talvez com o tempo a estiloNeoguarani venha a se transformar em uma espécie
de renascimento cultural. Nesse sentido, acredito que se valorizarmos e
reconhecermos a beleza de uma arte que representa a nossa cultura, todos somosNeoguaranis.
Entrevista
realizada dia 03 de maio por Egon Vettorazzi e Sofi González Gamez
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